Cistite aguda na mulher (acute cystitis) é causada geralmente por bactérias. Raramente por outros microrganismos. Por isso, é a doença mais frequente do trato urinário nas mulheres, principalmente na fase adulta da vida. Entenda por que a cistite aguda é tão frequente e como deve ser tratada.

A maior vilã da cistite aguda, a Escherichia coli

A cistite aguda na mulher é causada por bactérias que conseguem subir a uretra e atingir a bexiga, fixando-se no epitélio da bexiga. Para que isso ocorra há necessidade que esta bactéria seja especializada. Elas tem na estrutura da sua membrana, fimbrias que tem a capacidade de se fixarem ao urotélio. Este epitélio é adaptado para manter o contato com a urina, impedindo sua absorção por impermeabilidade.

A bactéria que causa 80% das cistites aguda é a E. coli. Por que são especializadas para agredir o urotélio. Ela tem a forma de um bacilo e pertence à família das Enterobacteriaceae. São bactérias aeróbias e anaeróbias facultativas.

cistite aguda na mulher
Cistite aguda na mulher – Tudo sobre o assunto

O seu habitat natural é o lúmen intestinal. Possuem lipopolissacárideo nas suas paredes, como todas as bactérias gram-negativas. A E. coli tem no seu genoma quase 5 milhões de pares de bases e vários milhares de genes codificando mais de 4.000 proteínas. Por outro lado, o genoma humano tem 3 bilhões de pares de bases, que produz cerca de 27.000 proteínas.

Neste gênero de bactérias, existem várias espécies, com variações de cada subespécie. Assim, as causadoras de infecções do trato urinário são adaptadas para sobreviverem neste meio.

As mutações nos genes das bactérias vão causando mudanças no DNA com efeito adaptativo ao microambiente. Desta maneira, podem se tornar resistentes as sua mudanças. Assim, elas possam a ter vantagem para sua sobrevivência.

A flora vaginal é rica em lactobacilos

A flora da vagina possui uma concentração de bactérias maior do que qualquer outra no corpo, com exceção do intestino grosso, o  cólon.

Estas bactérias consistem principalmente de lactobacilos, os chamados de bacilos de Döderlein. Durante a menstruação a população bacteriana diminui. O sangue é o meio predileto para proliferação bacteriana.

Contudo, o nosso organismo tem suas particularidades de defesa a invasão bacteriana. A quantidade e o tipo de bactérias presentes na vagina possuem importantes implicações para a saúde da mulher. Estas bactérias produzem ácido láctico. Em combinação com os fluidos secretados pela mucosa da vagina, rico em anticorpos (IgA) protegem a vagina das bactérias intestinais. Estas bactérias deixam a vagina com um pH levemente ácido.

A falta destas bactérias na flora vaginal deixa a vagina vulnerável as infecções recorrentes. Elas podem afetar a bexiga pela sua proximidade, predispondo a cistite na mulher. Portanto, normalizar a flora vaginal faz parte do tratamento profilático das cistites agudas recorrentes na mulher.

Anatomia da uretra e sua relação no períneo

A uretra está em íntimo contato com a vagina localizada anterior a parede vaginal. Seu extensão é de aproximadamente 4 cm até o colo da bexiga. A bexiga da mulher tem capacidade maior que a dos homens, em torno de 500mL.

A vagina é separada pelo períneo do ânus, local por onde trafega e excreta o bolo fecal. Imaginem vocês quanto são especializados os tecidos desta região para se tornarem resistentes e evitar as infecções recorrentes. As fezes, com enorme conteúdo de bactérias patogênicas são eliminadas, sem que ocorra contaminação da vagina e da própria uretra. O conteúdo fecal tem na sua maioria bactérias mortas, entretanto o número delas vivas são praticamente incontáveis.

Na verdade, há contaminação bacteriana perineal. Porém, o organismo tem mecanismos para evitar infecção ascendente pela uretra, causadora da cistite. Vale ressaltar que dentro da bexiga não existem bactérias, sendo que a urina é estéril, um ambiente considerado asséptico. A proteção da bexiga se deve a inúmeros fatores da defesa do nosso organismo. Quando ocorre, há predisposição para que a infecção bacteriana invada os tecidos constituintes da vagina e da uretra.

O envelhecimento genital

O envelhecimento modifica o ambiente. As mudanças no microambiente ocorre a nível celular que constituem os tecidos da região perineal. As mulheres são preparadas para dar a luz. Portanto, são as perpetuadoras da espécie. A gravidez pode deixar marcas na anatomia perineal. As mulheres são mais predispostas a perda da tonicidade dos tecidos de sustentação. Por isso, causam a incontinência urinária, mais frequente no envelhecimento.

Outro fator envolvido nas mudanças ambientais está relacionado as constantes mudanças hormonais observadas durante o ciclo menstrual. Na verdade, a infância, a adolescência, a vida adulta e a menopausa são períodos distintos. Em cada um destes momentos podem ocorrer cistites agudas com características particulares.  Cada período tem suas peculiaridades hormonais, produzidas pelos hormônios femininos, estrógeno e progesterona. Saiba mais sobre cistite na menopausa.

Período gestacional

O período gestacional, com assistência pré-natal precária é causadora de inúmeros males a saúde genital.  As modificações loco-regionais podem predispor ao início das infecções do trato gênito-urinário recorrentes. As mulheres multíparas com mais frequência na velhice apresentam incontinência urinária.

A vagina alterada, ressecada pela queda dos hormônios favorece a proliferação bacteriana no perineal. Portanto, causa infecção bacteriana na bexiga. A correção destas alterações podem restabelecer a normalidade perineal e impedir as infecções.

Cistite aguda na mulher sexualmente ativa

As cistites esporádicas nas mulheres adultas é evento considerado normal. Contudo, as cistites recorrentes alertam de que algo esta errado. Portanto, deve-se identificar suas alterações para seu tratamento adequado.

As mulheres na fase sexualmente ativa podem apresentar cistites de repetição pela ascensão bacteriana a bexiga. As mulheres em lua de mel (honeymoon cystitis) frequentemente sofrem de cistite aguda. A penetração peniana durante o coito pode favorecer a ascensão bacteriana do meato uretral a bexiga.

Algumas medidas profiláticas podem diminuir estas infecções ascendentes. A micção pós coito pode expulsar as bactérias da bexiga, diminuindo sua população. A defesa da bexiga contra a infecção é a polaciúria, ou seja, micções frequentes com baixo volume de urina. Ela expulsa as bactérias que se proliferam e agridem o urotélio da bexiga. Com menos bactérias há maior chance de se vencer a infecção.

As cistites sempre existiram na espécie humana. As mulheres as venciam por este mecanismo sem antibióticos. Contudo, no insucesso surgiam as complicações. As bactérias infectavam os rins, causando pielonefrite. Assim, quando não controladas, as mulheres morriam por septicemia, ou seja a infecção invadia outros órgãos via sanguínea.

Outras vezes, as infecções renais poderiam abrandar, mas as bactérias ficariam dentro dos rins. Desta forma, destroem os néfrons progressivamente. No futuro desenvolviam insuficiência renal, doença que causava sua morte. Esta era uma das causas de morte precoce de muitas mulheres.

Menopausa

A menopausa é outro pico das cistites. As suas defesas vão ficando mais frágeis. Assim, a queda hormonal é a responsável para este aparecimento. A flora vaginal, perdendo sua umidade natural, torna-se ressecada. Desta maneira, fica mais vulnerável as mudanças da flora vaginal e pode favorecer a cistite aguda na mulher. Portanto, recomenda-se normalizar a vagina, principalmente nas mulheres sexualmente ativas.

Reposição hormonal feminina local e restabelecimento dos lactobacilos podem ser a chave para o sucesso terapêutico.

Os antibióticos ajudam a debelar as cistites. Estudos mostram que o tratamento deve ser feito com antibióticos por três dias apenas em cistites não complicadas.

Os antibióticos diminuem o número de bactérias e depois o organismo normaliza a inflamação do urotélio. Por isso, não se deve usar antibióticos de amplo espectro, pois as bactérias ficam resistentes.

Os médicos são os responsáveis pelo uso adequado dos antibióticos a cada situação infecciosa do seu paciente.

As cistites devem ser tratadas para que o trato urinário seja preservado, evitando suas complicações.

Um mal tratamento pode predispor a complicações de uma das doenças mais frequentes infecções nas mulheres durante a sua vida. 

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Referência

https://uroweb.org/guideline/urological-infections/#3

https://www.mdsaude.com/2008/09/infeco-urinria.html